Introdução - Maravilhas da Internet
Basta um clique. Seja num
celular, tablet ou notebook, a quantidade de informações na ponta de nossos
dedos é tamanha que está havendo uma tendência em relacionar informação com o
próprio conhecimento. Promotores da tão divulgada "era da informação"
se esquecem de que o conhecimento está sempre associado à conexão de pessoas e
não só ao conjunto de informações.
É preciso lembrar de que antes
que existissem prestigiados laboratórios governamentais, a mídia digital e a
banda larga sem fio, o conhecimento foi um tesouro duramente conquistado por
instituições que converteram tradições filosóficas orais em erudição escrita,
preservaram e copiaram manuscritos garantindo a fidelidade ao sentido da
língua, enfim, cuidaram para salvaguardar o conhecimento ao longo do tempo,
permitindo usufruirmos hoje dessa modernidade de informação.
Quem terão sido esses heróis que
em época de recursos tão escassos conseguiram construir, preservar e divulgar o
conhecimento?
Se você se interessou, poderá
consultar o texto a seguir, que dividido em partes, tentará resumidamente
apresentar alguns dos tópicos mais relevantes sobre o assunto.
1 - Produção, preservação e transmissão
do conhecimento no ocidente.
Este texto faz relatos sobre a instituição
do conhecimento, uma história que contempla uma rica variedade de acontecimentos
e personagens que colaboraram a seu modo com muita eficiência para que o
"saber" fosse difundido e também, preservada a tradição ocidental.
Instituições como bibliotecas,
mosteiros e universidades contribuíram de forma decisiva para que esse objetivo
fosse alcançado.
O surgimento da escrita data de
4000 a.E.C na Baixa Mesopotâmia (atual Iraque) possivelmente com os sumérios.
Matemática e escrita aparecem
nessa região relacionadas à necessidade de registrar quantidades, não só de rebanhos,
mas insumos necessários à sobrevivência e organização da sociedade.
Os registros mais antigos que
conhecemos vem do antigo Egito e de povos que habitavam a Mesopotâmia,
considerada um dos berços da civilização.
Os registros da matemática mesopotâmica
eram mais numerosos provavelmente por usarem a argila que tem maior facilidade de
preservação, enquanto os egípcios usavam o papiro. O papiro provém de um
vegetal abundante nas margens do Nilo. Se o caule do vegetal for prensado, o
resultado é o que se poderia chamar folha de papel. O papiro era comercializado
largamente pelos egípcios e livros escritos em papiro eram conservados em
rolos, mas não eram tão resistentes ao manuseio quanto os escritos feito em argila.
Mais tarde, o papiro foi
gradualmente substituído pelo pergaminho. O pergaminho tem sua origem em
Pérgamo, importante cidade da Ásia Menor, donde lhe vem o nome. É obtido de
couro de carneiro tratado de modo especial, resultando numa folha consistente e
fina. Bem mais resistente e durável, porém mais caro, passou a ser usado em
documentos mais importantes.
Nos séculos seguintes, a
divulgação mais ampla dos pergaminhos e de seu uso, formando
"códices" ou cadernos permitindo a escrita nos dois lados da folha,
(impossível com os rolos de papiro), veio facilitar a confecção de livros
reunindo vários códices num único volume. Para aquela época, século IV da era
cristã, essa ideia foi considerada uma invenção não menos importante que a
imprensa no século XV. A escrita durável não fazia parte da tradição erudita de
gregos e egípcios.
Há algumas semelhanças entre as culturas
mesopotâmica e grega sobretudo no período coincidente com as conquistas de Alexandre,
o Grande, que propiciaram alguma interação entre os povos orientais e ocidentais.
Esse fato permitiu a transmissão do conhecimento de outras grandes culturas letradas
do mundo: a chinesa, a indiana e a islâmica, cada qual partilhando com o ocidente
o seu legado.
Os chineses representavam um
universo paralelo de erudição e civilização. Usavam materiais permanentes para seus
registros. Entalhavam caracteres em pedra, bronze e jade.
O Islã contribuía com a origem do
monoteísmo e com a absorção da filosofia e conhecimentos gregos.
A Índia, com um dos mais antigos sistemas
de conhecimento do mundo baseado no sânscrito, muito ajudou na solução de problemas
comuns às sociedades letradas.
Para que não se perdesse toda esta
forma de conhecimento surgiu a ideia de criar bibliotecas que se apoiavam na certeza
de que a melhor forma de organizar o conhecimento seria a escrita. Para tal, garantiriam
que: a) a tradição oral fosse convertida em erudição escrita; b) a cópia dos manuscritos
procuraria manter fidelidade.
Iniciando com as bibliotecas da antiga
mesopotâmia, outras foram construídas ao longo do Mediterrâneo garantindo o zelo
sobre textos gregos durante um tempo suficiente para transmiti-los recorrendo à
tradução ou originais.
A biblioteca que mais se destacou
foi a de Alexandria, fundada por Demétrio de Falero em 331 a.E.C, época em que os
"Ptolomeus" governavam o Egito após morte de Alexandre o Grande, fundador
da cidade de Alexandria.
Competindo com outros impérios em
Antioquia e Pérgamo, na Macedônia e na Grécia, os ptolomeus transformaram Alexandria
em ponto de atração para emigrantes gregos ávidos na busca do conhecimento. Era
a cidade multicultural da antiguidade.
Os Ptolomeus, com excepcional nível
cultural, criaram um centro especial para os eruditos com um templo extremamente
rico, o Museu, onde estava instalada a Biblioteca. Entre os intelectuais que se
sentiram atraídos a Alexandria podemos elencar: Euclides, o sintetizador da geometria
mais antiga; Eratóstenes que conseguiu encontrar com exatidão memorável a medida
da circunferência da Terra (que ele sabia ser redonda); Arquimedes que se destacou
na Mecânica dos fluidos. Tempos depois, já sob o domínio romano, o destaque da medicina,
Galeno, esteve em Alexandria para usufruir de seu centro de estudos. Também Serófilo
procurou a Biblioteca de Alexandria para suas pesquisas médicas. Relatos dão conta
de que ele dissecou o cérebro e o olho humanos em 288 a .E.C. Um quarto de século
depois lá nascia uma escola de medicina que se tornou famosa.
Também os judeus vieram para
Alexandria em grande número com o propósito de fazer comércio. Há notícias de
que cerca de 70 eruditos judeus vindos da Palestina também vieram para traduzir
o Antigo Testamento do hebraico para o grego. Essa versão do Antigo Testamento,
em grego, passou a se chamar Septuaginta ou dos Setenta e conta-se que apesar
de terem trabalhado separadamente as traduções tiveram idênticos resultados. A
Septuaginta veio a ser um patrimônio da comunidade judaica de Alexandria numa
época em que os judeus já estavam substituindo o aramaico e o hebreu (seus
idiomas) pelo grego que passou a ser o seu idioma principal.
Sobre a destruição da biblioteca
de Alexandria são poucas e contraditórias as informações, nenhuma delas
apontada como verdadeira. Um dos relatos aponta para momentos de tensão
religiosa e violência. Pagãos, judeus e cristãos conviviam num ambiente de
hostilidades. As autoridades políticas não conseguiram manter unida a mesma
cultura existente.
O saber dependia do destino da
biblioteca que já havia perdido sua grande incentivadora, Hipácia, que dirigia
brilhantemente uma escola de filosofia neo-platônica. Como era verdadeira
seguidora de Platão, dedicada à virtude e ao ecumenismo espiritual foi
brutalmente esquartejada por forças paramilitares sanguinárias lançadas contra
ela pelo bispo cristão de Alexandria.
Como a autoridade política (ptolomaica,
romana, bizantina ou muçulmana) não forneceu ao menos uma aparência de ordem ao
famoso Complexo do Saber, seu destino foi decretado. Não havia quem dele cuidasse
ou preservasse. Sua coleção foi sendo negligenciada e, enfim deteriorou-se.
Durante o tempo de colapso
civilizacional os mosteiros preservaram o conhecimento criando elos entre
estudo de textos escritos, reprodução de fragmentos de manuscritos, transmissão
de informações preciosas sobre o mundo de então, valendo ressaltar o esforço e
o mérito dos monges copistas.
Na próxima postagem:
Como os mosteiros contribuição na construção e divulgação do conhecimento.